A cirurgia bariátrica é um termo utilizado para classificar uma série de procedimentos cirúrgicos que visam tratar uma doença potencialmente grave que é base para uma série de problemas de saúde como diabetes, hipertensão, osteoartrose, apneia do sono entre outras.
Na última década o entendimento da obesidade como uma doença com graves impactos na saúde de seus portadores passou a ser difundido globalmente, mesmo assim a incidência desta afecção vem crescendo dia a dia. Questões socioculturais, econômicas entre outras vem sendo expostas como causas para estes níveis alarmantes. Existe estimativa da Organização Mundial da Saúde que nos próximos anos a população acima do peso esteja acima de 2 bilhões de indivíduos dos quais cerca de 1/3 já poderão ser considerados obesos, ou seja, Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30 kg/m2. No Brasil este problema vem se agravando de forma significativa nos últimos anos, sendo que atualmente se estima que cerca 20% das pessoas adultas estão acima do peso e que entre as crianças já há números preocupantes de acometidos por obesidade. Portanto, não há dúvida que esta doença é um problema de saúde pública global.
Dentro das terapias disponíveis para tratamento desta doença se encontram as técnicas de cirurgia bariátrica que estão indicadas em um grupo restrito de pacientes obesos em que o sucesso de terapias convencionais é muito baixo. As indicações para este tratamento estão definidas por normativa do Conselho Federal de Medicina, com detalhamento de doenças associadas (frequentemente citadas como comorbidades). Esta normativa estabelece que são elegíveis ao procedimento cirúrgico pacientes com IMC acima de 40 kg/m2, ou entre 35 e 40 com comorbidades e que apresentem falha de tratamento há pelo menos 2 anos. Estes critérios foram estabelecidos pois neste grupo de pessoas há um risco de mortalidade muito maior do que indivíduos não obesos.
Não se pode esquecer que recentemente, em uma nova normativa do CFM em 2017, foram estabelecidos critérios mais flexíveis para o tratamento da síndrome metabólica, possibilitando a indicação deste tratamento em portadores de IMC entre 30 e 35, principalmente diabéticos
Neste grupo de pacientes os benefícios do tratamento cirúrgico são evidentes, existe uma expectativa de controle das comorbidades superior aos tratamentos clínico e perda de peso entre 30 e 40%.
As opções cirúrgicas para tratamento da obesidade começaram a ser desenvolvidas há cerca de 70 anos, técnicas cirúrgicas foram criadas e aprimoradas ao longo destas décadas e o conhecimento dos efeitos e mecanismos de funcionamento das cirurgias teve um grande impacto no aumento do número de médicos entendendo os benefícios deste tipo de tratamento e passando a sugerir esta opção para seus pacientes.
Além disso, a cirurgia minimamente invasiva (videolaparoscopia) passou a ser incorporada rotineiramente na realização destas cirúrgicas nos últimos 20 anos. Houve uma redução indiscutível dos riscos, do tempo de internação hospitalar e retorno mais rápido a atividades cotidianas. Todas as técnicas de cirurgia bariátrica podem ser realizadas por videolaparoscopia.
A indicação da técnica a ser empregada irá variar entre os pacientes devendo se levar em conta fatores clínicos e as expectativas do paciente, esta decisão deve ser compartilhada entre o médico assistente e o paciente.
O sucesso da cirurgia está muito relacionado com aspectos comportamentais adotados no pós-operatório, e correção de atitudes inadequadas do pré-operatório. Sem dúvida a redução do estômago leva a restrição na ingestão de alimentos e a alteração mecanismos que regulam a fome e saciedade, mas é importante que uma vez operada a pessoa saiba como utilizar isto a seu favor.
Como ´já se sabe a obesidade é causada por múltiplos fatores, isto deve ser muito bem entendido por uma pessoa que pensa em ser operada. Muito deste conhecimento ocorre na preparação pré-operatória que é desenvolvida por uma equipe multidisciplinar. Os profissionais que compõe esta equipe sãos vários: cirurgiões, endocrinologistas, cardiologistas, psicólogos, nutricionistas, educador físico entre outros. O papel desta preparação é identificar hábitos inadequados, atuando na sua correção, estimular a aderência de comportamentos saudáveis, estabelecer expectativas reais, compensar doenças crônicas e promover perda de peso pré-operatória.
Não se pode esquecer que a cirurgia não é o fim da jornada do paciente obeso que é submetido a cirurgia bariátrica, aderência das orientações e rotinas do pós-operatório são os principais fatores para que os resultados satisfatórios sejam atingidos e perdurem ao longo da vida da pessoa operada.