Uma das doenças digestivas mais comuns no mundo são os cálculos na vesícula, popularmente conhecidos como pedra na vesícula. A vesícula biliar é um órgão do sistema biliar, os canais biliares levam a bile produzida pelo fígado até o intestino. Ela se localiza do lado direito do abdome, embaixo da costela e junto do fígado.
A principal função da vesícula é armazenar a bile. Na bile são encontradas três substâncias, que são o colesterol, sais biliares e bilirrubina (substância amarelada responsável pela cor das fezes). A função da bile é auxiliar na digestão dos alimentos, principalmente nas refeições que são compostas por nutrientes gordurosos.
A liberação da bile para o intestino ocorre através de estímulo por hormônios que são produzidos no tubo digestivo.
A proporção de pessoas com cálculos biliares pode chegar a cerca de 20% da população adulta, portanto é muito comum vários membros de uma família apresentarem esta doença sem que isso necessariamente signifique uma característica genética. Há uma maior incidência no sexo feminino, porém esta diferença entre os sexos diminui com o envelhecimento.
Na maioria dos casos os cálculos biliares são compostos por colesterol, então situações que levem a um aumento de eliminação de colesterol na bile se associam com maior incidência do problema. O aumento da quantidade de colesterol na bile pode levar à formação de cristais que causam a formação de cálculos. Além disso, o esvaziamento lento da vesícula também aumenta este risco. Alguns fatores são frequentemente relacionados com a esta doença: obesidade, gestação, perda rápida de peso, algumas cirurgias digestivas entre outras.
Sintomas
O sintoma clássico da presença de cálculos na vesícula é a dor em cólica de forte intensidade localizada no lado direito do abdome abaixo da costela, acompanhada com frequência de náuseas e vômitos, geralmente desencadeada pela ingestão de alimentos ricos em gordura – isto é considerado uma cólica biliar. Se simultaneamente a estes sintomas houver dor de forma contínua e febre, o diagnóstico de uma colecistite aguda deve ser aventado. No entanto, sintomas mais leves como sensação de gases e digestão mais lenta, mesmo sem dor, podem ocorrer.
Diagnóstico
Maneira mais fácil de fazer o diagnóstico de pedras na vesícula é através da ultrassonografia abdominal – um exame não invasivo, simples e de baixo custo. Outras modalidades de exames também podem ser utilizadas, porém em situações especiais. A realização de ressonância magnética, endoscopia das vias biliares (colangiopancreatografia endoscópica retrógrada) ou ecoendoscopia pode ser utilizada em casos de dúvida diagnóstica ou na ocorrência de migração de cálculos da vesícula para os canais biliares.
Complicações
Existem complicações relacionadas com a presença dos cálculos no interior da vesícula, como uma cólica biliar simples e também uma colecistite aguda, como referido acima. Os quadros infecciosos podem apresentar graus variáveis de intensidade, desde situações leves sem grande repercussão clínica até manifestações sistêmicas graves como septicemia, com evolução para óbito.
Outras complicações com potencial de gravidade são manifestadas quando um cálculo sai da vesícula e vai para a via biliar. Isto pode causar afecções necessitando na maioria das vezes de tratamento urgente. A doença mais comumente relacionada com a migração destes cálculos é a pancreatite aguda biliar, que demanda internação hospitalar e, dependendo da intensidade, se associa a taxas de mortalidade elevadas. Outra situação é a obstrução da via biliar por um cálculo causando dificuldade de progressão da bile para o intestino e levando a uma infecção grave chamada colangite, que assim como a pancreatite pode se relacionar a taxa de mortalidade não desprezível.
Além disso, a presença de pedras na vesícula por períodos prolongados pode gerar fístulas para a via biliar principal ou para o intestino (afecções de tratamento complexo). Também não se pode esquecer que cálculos na vesícula ao longo do tempo também aumentam o risco de desenvolvimento de câncer na vesícula, embora a incidência seja relativamente baixa.
Tratamento
A terapia mais frequentemente utilizada para o tratamento da pedra na vesícula é cirúrgico. Esta cirurgia é chamada colecistectomia (retirada da vesícula).
O tratamento cirúrgico da colecistite calculosa apresentou um grande avanço nas últimas décadas com o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, conhecidas como cirurgias videolaparoscópicas. Ao contrário do que se fazia até o final dos anos 80 – quando havia a necessidade de cirurgias com incisões grandes com maior risco de complicações, maior tempo de internação e afastamento das atividades diárias – atualmente as cirurgias minimamente invasivas permitem risco menor, menor tempo de internação e pronto retorno às atividades.
Em pacientes com restrições ao tratamento cirúrgico, excepcionalmente pode se utilizar o tratamento ácido ursodexocólico na tentativa de dissolução dos cálculos, porém estes resultados são muito limitados.